A acne é a oitava doença de pele mais prevalente em todo o mundo e também a mais frequente nos consultórios dermatológicos. Ela pode ter diversas origens; por isso, identificar a causa é um dos principais pilares para um tratamento bem sucedido. Os recursos terapêuticos têm como objetivos a eliminação das lesões de pele visando evitar a formação de cicatrizes e a busca pela qualidade de vida do paciente.
A manifestação da acne precisa de alguns estímulos, que podem desencadear desde lesões simples, conhecidas usualmente como cravos ou comedões, até lesões inflamatórias, clinicamente caracterizadas como pápulas, pústulas, cistos, nódulos e cicatrizes. O desenvolvimento desses sinais clínicos, inflamatórios ou não, pode afetar a aparência e a autoestima do paciente, repercutindo no seu estado psicossocial e podendo levar a quadros que vão de isolamento social até suicídio. Nesse contexto, o profissional que atua na saúde estética deve ter um olhar atento para ajudar e corrigir o problema desde os seus primeiros sinais.
Existem diversos fatores podem desencadear ou agravar a acne. Destacamos, primeiramente, uma dieta com alto índice glicêmico, que pode resultar em elevação rápida dos níveis de açúcar no sangue. O consumo de leite de vaca e seus derivados também merece atenção, uma vez que pode aumentar os níveis de insulina e IGF-1, ambos diretamente relacionados à produção de sebo pelas glândulas sebáceas. Além disso, o hábito de manipular as lesões acneicas possui o potencial de provocar escoriações na pele, agravando o processo inflamatório. O uso prolongado e inadequado de máscaras de proteção, sem a devida hidratação da pele, é mais um fator a ser considerado. Suplementos contendo Whey Protein e vitaminas do complexo B, especialmente a B6 e a B12, também foram associados ao desenvolvimento da acne. O uso excessivo de cosméticos, como esfoliantes e sabonetes muito detergentes, contendo ingredientes comedogênicos, pode contribuir para a obstrução dos poros e o surgimento da acne. Por fim, certos grupos de medicamentos são reconhecidos como agentes promotores da acne em suas diversas manifestações.
Vale ressaltar que existem ainda outros aspectos que também influenciam no surgimento dessas lesões inflamatórias, estes estão relacionados aos hábitos do indivíduo. Nesse sentido, destacamos a falta de rotina de limpeza da pele, o que leva ao acúmulo de sujeira por longo período. Por outro lado, a lavagem excessiva da pele remove o manto hidrolipídico e altera a barreira cutânea, pontos fundamentais para o equilíbrio da produção de sebo e da renovação celular. Outro aspecto que merece destaque é a demora do paciente na busca por ajuda médica, o que pode levar à prognósticos desfavoráveis e altos custos com tratamento, uma vez que as lesões inflamatórias e cicatrizes levam mais tempo e recursos para serem eliminadas.
Nesse cenário, destacam-se alguns grupos de medicamentos de uso frequente que têm como efeitos adversos reações cutâneas semelhantes à acne. Por isso, esse tipo de lesão já foi classificada como erupção acneiforme ou “acne medicamentosa”. Isso acontece devido a vários fármacos terem a capacidade de estimular a oleosidade da pele, que constitui a base para a formação da acne. Entre esses fármacos, podemos citar os anticoncepcionais que contêm derivados da progesterona, os corticosteroides de uso tópico e oral, comumente utilizados em pacientes alérgicos ou com doenças autoimunes, os hormônios tireoidianos, indicados ao tratamento das disfunções da glândula tireoide, os hormônios derivados da testosterona, conhecidos como anabolizantes, os ansiolíticos da família dos benzodiazepínicos e os antidepressivos, bem como alguns medicamentos aplicados no tratamento de tumores.
Os tratamentos da acne devem ser direcionados para a eliminação das lesões e prevenção da formação de cicatrizes. No caso da acne medicamentosa, o profissional deve identificar se o paciente faz uso de algum medicamento ou suplemento que possa estar influenciando no seu surgimento e, até mesmo, se existe algum outro fator predominante que esteja desencadeando as lesões. Após essa etapa, é necessário a suspensão do uso sob orientação médica. Esses medicamentos, em sua maioria, não podem ser descontinuados e o médico precisará avaliar os riscos para que não haja comprometimento no tratamento atual do paciente. Depois da suspensão do agente causador, as lesões permanecerão por um período na pele e, nesse momento, é importante o profissional fazer uso dos melhores recursos disponíveis para desinflamar e recuperar a aparência do indivíduo.
Os cosméticos de uso tópico, como sabonetes, adstringentes, protetores solares e medicamentos para controlar a oleosidade e inflamação, são muito importantes nessa fase e ressalta-se a importância da sua prescrição por profissionais capacitados e habilitados. Alguns procedimentos, como a limpeza de pele para extração de cravos, devem ser realizados por profissionais capacitados e em clínicas especializadas.
Com o advento das novas tecnologias que cercam a cosmetologia atual, é possível melhorar a inflamação e recuperar a aparência da pele utilizando produtos de uso tópico associados à procedimentos. O primeiro passo consiste em uma limpeza adequada da pele que remova o excesso de oleosidade, mas sem ressecá-la. A frequência de lavagem também é importante para não alterar demais o manto hidrolipídico, responsável pela hidratação natural. Dependendo do tipo e grau de inflamação das lesões, o profissional pode prescrever produtos com ativos anti-inflamatórios e secativos e que melhorem a oleosidade. A escolha dos tipos de produtos e medicamentos mais adequados a serem utilizados fica a encargo do profissional habilitado.
Nesse sentido, é importante uma avaliação individualizada do paciente com algumas mudanças de hábitos que garantam um tratamento bem sucedido.
Farmacêutica, com mestrado em Ciências Farmacêuticas pela UFPA/USP-RP, Docente em Cursos de Pós- Graduação em Cosmetologia, Estética, Farmácia Magistral e Farmácia Clínica, Palestrante e Consultora com mais de 20 anos de experiência do no Mercado Magistral.